Tenho colecionado céus
… sem entender muito bem o que isso quer dizer
O céu voltou a ficar azul. A chuva voltou a cair. Depois do tenebroso meio do ano na “capital do agronegócio”, onde o céu dormia e amanhecia cinza e as altas temperaturas eram permanentes, encontrar o verde das árvores depois da chuva, bem como com o céu azul, me fizeram olhar mais vezes pra cima. E olhando para cima eu encontro as nuvens e suas formas abstratas. E olhando pra cima eu começo a colecionar céus em meio a minha galeria de fotos.
Talvez, quando do lado de dentro a bagunça é uma constante, isso me faça tentar organizar alguma coisa por aqui. Capturar um fragmento abstrato. Capturar esse algo para capturar algo de mim. Acho que é lembrar do quanto essas coisas são pequenas pílulas de felicidade em meio a vida. É olhando pro céu que me interrogo, a partir das palavras do Krenac, se podemos ainda adiar o fim do mundo. Quando lembro do cheiro da fumaça, resgato a sensação de asfixia e tristeza, da impossibilidade de um sono regular, não há ar condicionado que dê conta da vida humana que vai se desintegrando. Porque no fim, a não ser que o planeta Terra exploda, ele seguirá aqui. Se você não é bilionário, saiba, não vai conseguir ir habitar outro planeta e compactuar com a destruição dele também.
Acho que colecionar céus é lembrar do infinito. Ao mesmo tempo, tem o limite que se desenha de até onde se pode ir, mesmo que não se saiba. O tom melancólico é companheiro, parece até desacreditada da vida. E sabe? Acho que sim, há uma certa descrença. Há um fio de esperança e fé que precisa ser resgatado aqui para continuar um tanto mais alegre. E eu continuo colecionando céus.
Olhar pra cima talvez seja esse ato de resgate da esperança e da fé de que dias melhores e menos embolados poderão chegar. Observar os passarinhos e seu canto alegre como se fosse presságio da chuva. Dormir sem o blackout da cortina para ser acordada pelo sol. Me embolar na coberta porque me sinto não só protegida, como gosto do quentinho que dá aconchego e não sufocamento. Certo é que foi olhando pra cima, ou ficando distraída demais, que veio uma queda e tanto. Não só porque lesões anteriores permitiram isso, mas também o simbólico que me lembrou que as quedas, mesmo dolorosas e que deixam estatelada, precisava acontecer. E, mais uma vez, coleciono o céu deitada no chão.
Talvez do chão não passe mesmo, segundo o dito popular. E eu? Pretendo seguir colecionando céus.