Abril de 2022 foi a última publicação realizada aqui. Quanta coisa de lá, até então. Eu saí do trabalho que eu estava e tentei me dedicar “só” à clínica e tudo que ela envolve. Teve altos e baixos, ansiedades, retornos a lugares que não gostaria e a saída dele também. A vida continua sendo trabalho, suor e lágrimas, mas de um modo diferente. Parece aquele texto, sabe? Recordar, repetir e elaborar, do Freud.
Eu quero um tanto de coisa para o próximo ano, mas, em especial trabalhar e me reorganizar financeiramente, sem medo. E acredito que aqui, é um primeiro passo em relação a isso. Onde eu escrevo demorado e me organizo, você já deve saber. Caso não, leia depois as outras duas postagens.
Acho que vou organizar alguns tópicos a partir daqui, para organizar as ideias e a minha intenção.
TRABALHO, SUOR, LÁGRIMAS E ALGUMA ELABORAÇÃO
Ontem eu escolhi ler algumas publicações realizadas aqui, escritos de outras mulheres incríveis. Uma delas comentou na publicação cujo título é o mesmo desta seção. Me emocionei ao encontrar com a Vanessa de 2022, angustiada com um dos trabalhos que estava. Embora eu tenha saído de lá somente no fim daquele ano, parece que eu já havia tomado a decisão de sair, só precisava do meu tempo. A relação com o trabalho está melhor, hoje, enquanto alterno o olhar entre as gotículas de chuva que tocam o vidro da janela e as palavras que vão se formando enquanto eu escrevo aqui. Hoje, depois de uma viagem feita no mês passado, onde entendi com o vai e vem das ondas, mais uma vez, que a vida é de maré alta e baixa; que as vezes a gente toma caldo e outras tantas a gente pode ficar flutando; as vezes saímos das situações com todos os acessórios, e outras deixamos um brinco ou outro pelo caminho, sem nem perceber direito. É neste hoje que posso estar um pouco mais calma. Amanhã, não sei.
Estar melhor não é sinônimo de estar sem angústia. Foi o primeiro ano, de 7 anos de formada, que me dedico integralmente a clínica. E isso envolve os atendimentos, algumas supervisões ofertadas e grupo de estudo. Sim, teve um momento que dei aula remota, por uns dias. Amo a sala de aula, não gosto do que a estrutura de ensino que temos a disposição me provoca.
“Sobreviver da clínica” me parece, hoje, algo cruel. Porque é uma narrativa que vai ao encontro do “faça você mesmo”, individualizante. Sobreviver da clínica envolve pagar seu próprio imposto, plano de saúde, organizar as próprias férias e 13º, por exemplo. Adoecer e sofrer algum acidente: pense bem, viu? Sem trabalhar, não recebe. Organizar tudo isso leva tempo. Atribuir preço e valor ao próprio trabalho também. Quais as saídas? Qual a dança necessária? Será que volto para as aulas de dança contemporânea para me movimentar conforme o ritmo da música e explorar as possibilidades do meu corpo? Acredito que já esteja fazendo isso, ainda sim, conflitos. Tudo bem, eu escolho dar as mãos para angústia e a insegurança. Caminhamos.
A Vanessa de abril de 2022 estava ocupada com trabalho. Mas também com o próprio corpo. Eu precisava me exercitar, buscar a sensação de suor. Esticar o corpo. Em novembro de 2022 teve uma promoção na academia perto de casa e… fiz minha matrícula, com medo de não conseguir manter o ritmo. E sim, eu fui muito mais vezes a academia ao longo de 2023 do que em vários outros momentos da minha vida. Foquei em musculação e esse ano, já renovei a matrícula. Ano que vem deve vir aí a Vanessa nadadora. Foi curioso me ler e perceber que isso já estava em mim, mas por n razões não aconteceu. As mesmas razões de uma vida toda achando que meu corpo não é adequado para nenhum esporte. Ainda tenho dificuldade, não é pouca. Mas, suar faz bem e recomendo (além da sua água em quantidade descente e comer fruta pelo menos uma vez por dia, tá bem?). Por que não tentar, não é?
As lágrimas estão mais brandas. O único dia esse ano que chorei de desabar foi com uma situação humilhante em relação a trabalho. Desabou tudo. O desespero e a angústia se fizeram presente e acho que só estou me recuperando agora, nos últimos meses. Eu sinto saudade dos meus, quase todo dia. Quase sempre escorre uma lagriminha lembrando de algo. Essa sensação que tento nomear é companhia, somos mais amigas hoje, mas há nossos momentos de briga também! Chimamanda Ngozi Adichie é uma escritora nigeriana com livros interessantes. Um deles se chama Notas sobre o luto. Nele, ela escreve: “Como as pessoas andam pelo mundo, funcionando, depois de perder um amado pai?”. Acrescento: Como seguimos andando pelo mundo, funcionando, depois de perder quem a gente ama? Enigma. Revelo a mim a escolha em seguir. Descobri: não dá para ser só! E eu não estive, embora me recolher sempre é uma necessidade em meio ao trabalho, ao suor e as lágrimas.
DAQUI PRA FRENTE
Eu qualifiquei uma dissertação e ali, no encontro com pessoas de confiança, a chama da escrita acendeu em mim. Quanto a minha pesquisa, há um tanto de trabalho daqui até o fim de fevereiro, quando espero concluí-la e enviar para a banca. Vamos ver se torno isso possível. Quanto a escrita, estou aqui e quero continuar aqui. Nos meus diários, nos posts do instagram. Quero ler mais newsletter e me conectar com as pessoas por aqui, demoradamente, com tempo distinto do imediato. Aqui é me dizer de outro modo, menos como um produto, mais como as incongruências e paradoxos que me cabem, a cada palavra formada.
Daqui para frente quero colocar atividade física e trabalho como centro. Viu aí? O trabalho vem depois do cuidado comigo, sútil e tão importante. Eu quero me fortalecer econômica e materialmente. Ainda é assim que eu entendo que caminhos outros possam se abrir. O desafio é não adoecer, não sucumbir, não esmorecer. Será possível?
Assim, sigo com os atendimento clínicos presenciais e on-line; quando surgem pessoas pedindo supervisão, penso na possibilidade. Caminharei com um grupo de estudos, conduzido por mim. E outro, com uma amigo querido. Acredito que isso, por si só, já é trabalho suficiente, apostando no semear e cuidando para que seja uma colheita interessante, ao longo do tempo. Ao mesmo tempo, espio outras possibilidades e outros espaços que com o meu conhecimento posso me inserir e obter remuneração interessante. Caminho desconhecido a ser tateado.
Eu quero mais sambas e pagodes. Viagens e encontros. Eu quero descobrir outras coisas em mim, elaborar as que já existem e abrir espaço para as possibilidades dos encontros amorosos. Este último é um tema espinhoso, muito. Porque a certeza de perder amores me ronda e, apesar de tentar cuidar dela, me fecho. Nesse fluxo entre abrir e fechar, mostrar e esconder, experimento. Espero, que também na cozinha, lugar de memórias, criação e reinvenção.
Espero leitoras e leitores que me leiam e me inventem. Que com as palavras que escrevo haja encontro e haja um texto inédito a cada um, a cada uma. Eu paro aqui e te encontro em algum outro momento, assim espero.
Um abraço!